RIO — Para muitos, é o verdadeiro “dono” da Barra. Foi na região, onde comprou — algumas vezes em operações polêmicas — dez milhões de metros quadrados, o equivalente aos bairros de Copacabana, Leme e Botafogo juntos, que ele apostou todas as suas fichas desde os anos 70. Agora, aos 91 anos, Carlos Fernando Carvalho, dono da Carvalho Hosken, se vê beneficiado pelas Olimpíadas: ele participa tanto da construção da Vila dos Atletas, erguida num terreno seu, quanto do Parque Olímpico.

Não foi o único que investiu em verdadeiros latifúndios, mas está à frente dos grandes empreendimentos que mudaram a região: Rio 2, Península, Cidade Jardim e, agora, Ilha Pura (Vila dos Atletas) e Centro Metropolitano. O empresário reconhece que foi um acerto sair das obras públicas nos anos 60: “Se ainda estivesse no setor, estaria preso, envolvido, com razão ou sem razão”.

Para ele, a transformação que ocorre na região será um legado maior que o do Porto Maravilha. Com obras que vão triplicar a ligação da Barra com o resto do Rio, ele vê, pela primeira vez, a cidade “rodando em torno do Maciço da Tijuca”. Mas vislumbra novos desafios, principalmente na mobilidade interna (“terá de ser resolvida por VLT ou metrô”). Há três meses, abriu o Hotel Hilton. E os planos continuam: sonha em levar para seus terrenos um grande parque de diversões e até o Rock in Rio — algo negado pela empresa promotora do evento. Abaixo, os principais pontos de sua entrevista.

A HERANÇA DOS JOGOS

“Com as Olimpíadas, a Barra avançará 30 anos entre 2010 e 2016 (…) O maior legado das Olimpíadas não será o Porto Maravilha, mas sim a integração da Barra à cidade. As Olimpíadas vão mais que triplicar a ligação que a Barra tinha com o resto da cidade. E também há obras de redes de água, energia, saneamento. Estamos fazendo com que a cidade rode em torno do Maciço da Tijuca. Estamos fazendo com que exista uma intimidade entre os dois espaços, a cidade velha e a cidade nova, que está se expandindo. Elas passam a conviver. É difícil até dizer o quanto a cidade se valoriza com os Jogos. O legado é uma cidade que se integra, acaba com a separação e abre espaço para a moradia de qualidade.”

AS OLIMPÍADAS E SEUS NEGÓCIOS

“Realmente fui muito ajudado pela vinda dos Jogos para a cidade, pois isso combateu um dos problemas mais sérios da região, que era a falta de infraestrutura de serviços, em setores como água, energia e esgoto, além do transporte.”

“Eu ofereci as áreas para que a Vila dos Atletas ficasse aqui. Era imperativo para a cidade que isso ocorresse.”

APOSTA NA BARRA E REGIÃO

“Eu enjoei de comprar terrenos na Barra. Tudo o que era bom já comprei.”

“O preconceito com a Barra tinha muito a ver com os problemas legais, as discussões jurídicas em torno dos terrenos. Como era uma área muito nobre e grande, desocupada, serviu de pasto para disputa de interesses. Quando isso se resolveu, começou a cair o preconceito.”

LIGAÇÃO COM OUTROS BAIRROS

“Temos que pensar em atender o público de Campo Grande, Santa Cruz e da Baixada, a apenas 23 quilômetros daqui, onde moram cinco milhões de pessoas. Temos que entender como atender a população que virá para cá com o metrô. O BRT já é uma sardinha em lata.”

“Os governos até agora estavam fazendo projetos para integrar a Barra ao restante da cidade. Agora precisamos pensar na mobilidade dentro da Barra. Vejo solução pelo alto ou por baixo, ou seja, com VLT ou metrô.”

CORRUPÇÃO EM OBRAS PÚBLICAS

“Eu evitei um problema (sobre o fato de ter abandonado as públicas nos anos 60). Se ainda estivesse no setor, estaria preso, envolvido, com razão ou sem razão.”

“O que eu vejo são coisas que sempre existiram no Brasil e no mundo. Não são novidade, já ocorreram diversas CPIs. As empresas (cujos donos foram presos recentemente na Operação Lava-Jato) podem estar passando por um incômodo, mas não por um susto. Elas estavam preparadas para isso.”

“Não me preocupa, as obras estão na fase final (sobre o fato de ser sócio da Andrade Gutierrez e da Odebrecht na construção do Parque Olímpico).”

PARQUE DE DIVERSÕES

“O Centro Metropolitano é o centro geográfico do Rio. Estamos fazendo algo elitizado. Quando decidi abrir o hotel, o Hilton, me disseram que só dava para fazer um quatro estrelas. Bati o pé, precisava de um cinco estrelas, precisava de um shopping como o Metropolitano para mostrar como será o padrão da região.”

“Precisamos de um parque de diversões que seja referência na América do Sul.”

“O mercado está todo parado. Já vivi isso várias vezes, esperávamos que o crescimento do país fosse mais estável, que as taxas de juros continuariam procurando se encontrar com a capacidade de compra do brasileiro. Ocorreu o contrário. Mas não tenho pressa em vender (projetos como o da Ilha Pura e o da Vila dos Atletas), pois sei que o produto é bom e que há demanda.”

Fonte: OGlobo OnLine | HENRIQUE GOMES BATISTA

Foto: Agência OGlobo | Fabio Rossi